Questões da vida cotidiana - parte I
Bom, fazia tempo que eu não escrevia nada consistente aqui, então imagino que já seja hora.
Hoje, ao esperar o ônibus pra ir à Curves (estava chovendo, por isso não fui a pé), ouvi uma conversa entre duas moças que me pareceu, no mínimo, intrigante.
Ambas as moças não pareciam ter muita formação acadêmica (não seria uma aproximação ruim dizer que elas mal devem ter concluido o ensino básico), ou algum outro tipo de vetor de conhecimento, enfim.
E depois de ouvir, numa mesma frase, as palavras "engravidar", "infértil", "dinheiro", "pastor" e "Deus", não achei exatamente por mal ouvir a conversa das moças.
Uma certa parte da conversa dizia mais ou menos assim: "...e aí, a moça queria engravidar, mas não conseguia. Parece que ela era infértil, e sempre tentava engravidar, mas nunca dava certo. Aí o pastor disse que pra que eles conseguissem ter um filho, eles teriam que fazer um sacrifício. Então ele disse que ia ter a semana do sacrifício lá na igreja, (...) e ele conseguiu juntar mil reais pra dar pro pastor. Quando a esposa perguntou se ele tinha conseguido o dinheiro do sacrifício, ele disse que sim, que tinha juntado mil reais. Daí, ela respondeu que mil reais era muito pouco, que tinha que ser mais (...) e daí, eles entregaram o dinheiro pro pastor. Só sei que na semana seguinte, perto dos jogos da Copa do Mundo, ele foi numa loja de eletrônicos e comprou uma TV de oito mil reais. Cê acha? Quem compra uma TV de oito mil, mil reais não é sacrifício. Tem que se sacrificar, juntar todo o dinheiro do mês, senão Deus não ajuda.
(...)
Eu sei que eles usam o dinheiro nosso. Cê acha que todas aquelas melhorias na igreja é feito com o dinheiro do pastor? Que nada, aquilo tudo é dinheiro nosso. Mas é bem utilizado, cê não acha? (...)"
Não é minha intenção ofender alguém, ou qualquer coisa do tipo. Minha intenção é apenas levantar alguns questionamentos que eu julgo saudáveis.
Ok, argumentação válida. Mas porquê o dinheiro tem que ser dado ao pastor? Não pode ser DIRETAMENTE a, por exemplo, uma instituição de caridade? Ou fazer um mutirão e dar comida pras pobres crianças da favela do lado? Ou se comprometer a fazer alguma coisa X em favor de uma situação Y, onde X demanda algum tipo de sacrifício monetário? Ou deixar de ir na balada por um final de semana? Ou parar de comer tamarindo por um mês. Há várias coisas que poderiam ser consideradas como sacrifício, não só o dispêndio de dinheiro. Pensando que não seriam dois ou três fiéis a fazerem o tal do sacrifício... seriam uns bons milhares de reais pra conta do Pastor. Talvez pagar o almoço no Bellini* da família do Pastor também encurta o caminho pro céu.
Comandar uma série de ovelhinas com bitola é simples. Mesmo as que não têm a tal da bitola - você sempre pode agarrá-lo pelos seus problemas, afinal de contas, quem não os têm? - podem se tornar ovelhinhas fiéis ao cachorro por meia duzia de latidos. Pessoas se cegam por muito pouco, por uma resolução ilógica e muitas vezes imoral de todos os problemas da sua vida... sempre por uma módica quantia de $$ - quando as vezes, o problema é passível de solução sem esse tipo de saída.
Sem dúvidas o maior pecado da humanidade foi comer a fruta do conhecimento. Pra esses Pastores, e afins, tudo seria muito mais fácil se fôssemos todos ignorantes, e aceitássemos o que ele diz, sem questionar. Mas além de isso ser tema pra outro post, eu sou uma pessoa muito feliz por comer o fruto do conhecimento todos os dias, e não cair nessas roubadas.
* Bellini: Restaurante italiano em Campinas, cujo prato de nhoque custa apenas R$ 40,00
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1 Comments:
O pastor também come do fruto do conhecimento, às vezes. Por isso ele é expert em arrebanhar bobos. :)
15 de mai. de 2008, 21:13:00
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