Varsol é uma mistura de alcenos, a vodka é álcool... e o resultado é éter - na mente.

5.12.07

Questões da vida cotidiana - parte II

Tradição é um tema bastante espinhoso em qualquer rodinha de conversa. Mesmo a pessoa mais descolada sempre tem alguma.
Ou é ir correr no parque todo domingo de mês ímpar, com a meia furada e a cueca de bolinhas, ou é comer um prato de buchada de bode todo dia 29 de fevereiro... ou qualquer outra coisa.

A tradição da tradição (por mais redundante que isso possa parecer), é não questionar o fato pelo qual ela existe. Ela existe porque sim. Muitas vezes, ela existe porque sempre esteve alí, mas nunca ninguém parou pra pensar.

Não digo que isso é uma coisa absolutamente ruim. Por exemplo, a tradição de não matar pessoas pelo puro prazer sádico de ver o outro se contorcendo de dor não só é levada em frente, como é uma lei. No entanto, a tradição de ir todo domingo na igreja (sim, ela de novo), é uma tradição bastante questionável.

Pra mim, às vezes, é bastante difícil entender o que é simples e claro pra todo o mundo. Não consigo entender determinados protocolos, e muitas vezes nem entendo o porquê de eles existirem.

Eu, talvez por ter uma veia científica, sempre questiono aquilo que eu estou fazendo antes de fazer. Claro que muitas vezes erro ou sou levada pela inércia da tradição. Mas eu acredito que é profundamente danoso e prejudicial apenas reproduzir aquilo que todo o mundo sempre fez.

Parece que esse tipo de coisa não é exatamente comum, mas é. As pessoas geralmente se rotulam de 'inovadoras', quando fazem alguma coisa diferente, mas no fundo, elas não fazem nada do que ninguém teria já feito, de acordo com o curso da história.
Ninguém é inovador por não discriminar negros ou homossexuais hoje em dia. A frase "olha, eu não sou preconceituoso" não é mais exatamente muito bem utilizada. Essas coisas tomaram um certo curso hoje em dia, que se torna natural olhar de uma forma diferente - sem preconceitos - para uma determinada situação. Se você não é preconceituoso, meus parabéns, mas você não fez nada que outras pessoas não fariam. E mesmo essas pessoas "inovadoras", em uma grande parte das situações, fazem tudo aquilo que os pais fizeram, que por sua vez fizeram igual aos pais deles, etc.

O negócio é estar na vanguarda das mudanças. Esses sim são os que quebram as tradições, e quem realmente inovam todo um cenário, seja esse qual for. Essas sim são as pessoas inovadoras.
Ser inovador não é exatamente mudar uma coisa ou outra, mas é ter esse instinto de uma forma intrínseca.

Dizem que são os jovens que têm a capacidade de mudar o mundo. Eu concordo com isso. Mas de nada adianta se todos nós fizermos tudo que todos sempre fizeram, da forma que fizeram, sem questionar a validade disso. No meio científico, isso é só reproduzir resultados de um artigo. O bom cientista é aquele que inventa, questiona, inova. Não imagino que sejamos todos nós cientistas; mas também não adianta reclamar que nada muda, se nem mesmo nós conseguimos nos livrar das cracas das tradições que estão encrustradas na gente, e não conseguimos absorver ou entender uma opinião nova, ou diferente.

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1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"A tradição da tradição (por mais redundante que isso possa parecer)"

Não acho redundante. Entendo bem que você fale de tradições em dois níveis de compreensão, um imediato e a abstração seguinte - e, por isso, transcendente - deste.

Para mim, sua opinião só apresenta algum mal-êxito quando chega no seguinte ponto: "O negócio é estar na vanguarda das mudanças."

Hey, vanguardismo não é uma tradição? Assim, parece-me essencial ser um vanguardista da vanguarda, isto é, um retorno cônscio, e rebelde, a certas tradições como uma crítica à inconsciência de uma outra tradição (no caso, o vanguardismo). A digestão da digestão.

15 de mai. de 2008, 21:08:00

 

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